quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

JOE O BÁRBARO  COMPLETO 
http://minhateca.com.br/volponi/Quadrinhos/Vertigo/Joe+-+O+B*c3*a1rbaro+-+8+vol


Joe Manson é um jovem que, além da diabetes, tem uma imaginação hiperativa. O dia já não estava indo bem, e de repente ele se vê com hipoglicemia e uma de suas consequências: alucinações. A partir daí, conseguir descer do seu quarto no sótão até achar um refrigerante na cozinha pode ser uma odisseia sem precedentes em meio a animais falantes, inimigos medievais, Transformers, Batman e tudo que faz parte da mente heroica e delirante de Joe.
Mistura de O Senhor dos Anéis, Alice no País das Maravilhas e Esqueceram de Mim – nas palavras do roteirista Grant Morrison -, Joe,o Bárbaro fez sucesso de crítica e público nos EUA, onde foi indicada aoPrêmio Eisner e teve os direitos de adaptação para o cinema comprados pela Thunder Road Pictures. Além de ter sido o trabalho que revelou ao grande público o desenhista Sean Murphy, hoje um dos nomes mais comentados da nova geração de quadrinistas.

Realidade e imaginação, uma relação de opostos. Ou não? Costumo me interessar por trabalhos que desestabilizam, nem que seja um pouco, esse binarismo tão caro ao nosso pensamento. Pode ser a imaginação real? A realidade algo também imaginado? É como aquele clichê, o que garante que não estamos sonhando? Por mais filosofia de boteco que isso pareça, convenhamos que não temos como responder plenamente essa pergunta. É dessa sopa filosófica que se aproveita Joe, o Bárbaro, minissérie de Grant Morrison e Sean Murphy.

Joe é um menino introspectivo, digamos que ligeiramente “nerd”, gosta de desenhar e possui diabetes tipo 1. Seu pai morreu na guerra e sua mãe está tentando garantir que eles, sem dinheiro, não percam a casa. Tanto a mãe quanto Joe por vezes culpam o pai por tê-los deixado tão desassistidos. Joe vai ao cemitério dos veteranos, tem seu chocolate roubado por valentões, volta pra casa chateado, esquece a porta aberta, solta seu hamster Jack, vai até seu quarto no sótão, numa cama no alto e percebe que esqueceu de comer algo doce. Joe entra em crise hipoglicêmica.

É preciso descer até a cozinha para pegar um refrigerante. Eis a odisseia de Joe, pois na medida em que ele precisa fazer esse percurso, um novo mundo mágico se abre pra ele, com guerreiros, monstros, castelos e a profecia de que ele é “o menino que morre”, aquele que pode vencer o Rei Morte e salvar o reino. O que há na casa de Joe encontra ressonância nesse mundo mágico; nele vemos Batman, os Comandos em Ação, Transformers, Ninjas, Dinossauros e outros brinquedos ganhando vida. A torneira que Joe delira ao abrir é o novo rio que surge. Jack ,seu hamster, vira um habilidoso samurai, guia protetor da jornada.

Desnecessário listar outras dezenas de conexões. Basta perceber que os clichês desse tipo de estória estão todos lá. Desde a tensão realidade-fantasia em As Crônicas de Nárnia, O Labirinto do Fauno ou Alice no País das Maravilhas, passando pela ambientação de O Senhor dos Anéis ou A História Sem Fim, e culminando no combate de Hamlet com o fantasma do pai. Morrison trabalha aqui com o que parece ter se tornado sua especialização: a saturação cultural. Tudo se junta, se sobrepõe, se metamorfoseia. De certa forma o que amarra a narrativa são os suntuosos desenhos de Murphy, na riqueza uniforme de detalhes que bem se destacam nas cores de Dave Stewart.

Contudo outra temática cara à Morrison é esse choque entre realidade e imaginação. Algo que ele já tem feito em anos à frente do Batman. Quando o Batmirim, aquele duende da 5ª dimensão das HQs dos anos 1960 reaparece para Batman recentemente, Bruce questiona “você é mesmo da quinta dimensão ou fruto da minha imaginação?” e o Batmirim responde “a imaginação é a quinta dimensão”. Com Joe, o Bárbaro, Morrison reitera esse pensamento.

Pois não é nenhuma revelação na trama que o menino está em crise de hipoglicemia. Isso é estabelecido prontamente, portanto não importa muito se o mundo mágico existe (no sentido mais materialista do termo), o que importa é como Joe trilha por ele na busca de sua salvação, simbólica e real, na reconciliação com o pai (ex-vilão, herói renascido) e a reconquista do reino, sua casa (a escritura numa imagem de cabeça para baixo). Trata-se, em resumo, de como Joe se revela alguém bárbaro no sentido fantástico da palavra. Morrison comenta que uma das suas referências também foi Esqueceram de Mim, algo bastante condizente.

Se a imaginação é uma dimensão, ela não é menos real que a realidade. Nosso vício conceitual tende a resumir realidade por coletividade. Se todos veem a Estátua da Liberdade, ela existe, mas se só eu vejo um rato samurai, eu deliro, ocorro em uma irrealidade. Mas não haveria realidades singulares? Por mais que todos sintam dor, jamais sabemos como é a dor do outro. O mesmo pode-se dizer das cores. Se formos pro terreno das crenças então, nem se fala.

No entanto não se trata de recair num mentalismo de que tudo que pensamos se torna real. O que muda é perceber a imaginação como uma dimensão importante da nossa subjetivação, tocante pro olhar do sujeito que somos, pra nossa sensibilidade. Por isso mesmo é algo real (de realeza, reinante, relevante).

Até que ponto a imaginação pode recriar o real é uma outra pergunta, muito mais densa. Joe parece ter encontrado sua resposta ao fim, resta saber se nós também a encontraremos, no final ou ainda durante a leitura de um gibi – uma bárbara jornada.

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Joe, o Bárbaro, saiu nos EUA entre 2010 e 11. No Brasil saiu pela editora Panini neste último ano, na revista mensal Vertigo (junto com outras séries como Casa dos Mistérios, Escalpo, Vampiro Americano e Hellblazer). Os números com Joe vão da Vertigo 21 a 28. Podem ainda ser encontradas em sebos ou lojas especializadas. Nos EUA tem uma edição capa-dura, tamanho grande, muito elegante.






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